“Ter a pia” cheia de louça
- Gabriel Maximiano
- 27 de fev. de 2019
- 3 min de leitura
Muito se diz nos dias de hoje que a depressão é a doença do século, e acredito que é verdade, mas por que? Existe uma explicação para o boom de casos de depressão que vemos hoje em dia. Não existia depressão e ansiedade antigamente? As gerações anteriores não adoeciam?

A resposta é simples e curta, sim. As gerações anteriores não eram mais “fortes” e se você cavar um pouco na vida de seus pais e avós pode descobrir isso. A depressão está entre nós já faz um bom tempo, a ansiedade também. Existe explicação para essa sensação de que o adoecimento mental é algo novo.
Primeiramente, atualmente estamos quebrando um mito muito perigoso, que não devemos sofrer, ou mesmo a ideia de que força é aguentar sozinho seus sentimentos e não pedir ajuda. Quem nunca ouviu frases como “não pensa nisso não” ou mesmo quem nunca ouviu que não devemos chorar. A frase que dá nome a este texto é um exemplo “o que você precisa é ter a pia cheia de louça”, ou seja, se ocupar para que você não pense no que está sentindo e passando.
A sociedade por muito tempo condenou o sofrimento e a expressão dos sentimentos, principalmente no meio masculino. As gerações mais antigas ainda trazem fortes traços de que força significa não ir a terapia, é “engolir o choro”, é não vivenciar a dor. Entretanto, hoje nós temos mudado esta mentalidade. Busca-se cada vez mais ajuda e cada vez mais se fala sobre saúde mental. Jogar um problema para debaixo do tapete não faz com que suma, mas pelo contrário, ele normalmente piora.
Em segundo, vivemos em um mundo muito mais dinâmico e muito mais “rápido” do que aquele em que nossos antepassados viveram. Hoje em dia vivemos conectados a todo o momento, somos uma geração online. Vivemos em uma era de stress, de desentendimentos e brigas via redes sociais, de ódio, violência e intolerância. Não que as anteriores não fossem violentas, mas hoje vemos tudo, ligar a TV ou mesmo acessar um site de noticias é ver sangue, corrupção e ódio. Isso tudo não aumentou ou começou agora, só ficou mais visível.
O terceiro ponto sensível é a velocidade em que nossas vidas se encontram. Temos um dia-a-dia completamente cheio. Observe o exemplo de uma mulher, que é mãe. Ela acorda cedo, tem que cuidar do café da manhã dos filhos, ou os leva para a escola ou os coloca em uma van. Se troca, as vezes já atrasada, as vezes demora horas para chegar ao serviço. Lá sofre com as pressões do trabalho, muitas vezes com assedio moral. Cobrança que aumenta cada vez mais. Na volta, mais horas de ônibus, metro, entre outros para chegar em casa.
Essa mulher do exemplo está basicamente perdendo sua vida no sentido de “ganhá-la”. Esta existência acelerada e cheia, repleta de cobranças, stress e cansaço aliena o indivíduo de si. Mas o que significa isso? Alienar vem da ideia de alienígena, alien, alguém de fora. Não há espaço aqui para que esta pessoa possa pensar sobre si, que se conheça, que entre em contato consigo.
Por isso que tanto se reforça a necessidade e importância da terapia. Um dos principais objetivos da terapia é gradativamente devolver o paciente a si mesmo. Por isso, a psicoterapia tem como cerne o contato. No processo da terapia o paciente irá retomar o contato consigo. Deixando de ser um estrangeiro de si mesmo.
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