Janus: Uma porta para o desconhecido
- Gabriel Maximiano
- 13 de mar. de 2019
- 3 min de leitura
Na antiga mitologia Romana, existia um deus, este que não é tão conhecido quanto deuses da mitologia Grega, chamado Jano. Sempre representado por uma figura com duas faces olhando em direções opostas, Janus é o deus dos inícios, das decisões e escolhas. Sua figura era associada às portas e às transições. Inclusive o deus tem um mês nomeado em sua homenagem, janeiro, o mês do começo do ano, mas também do recomeço.
Mudar pode ser algo amedrontador, abrir-se para o novo pode ser gerador de uma angústia muito forte, mesmo vivendo tempos líquidos como os nossos, onde tudo muda a todo momento. Mas, para além do medo, mudar é essencial, somos mudança, somos transição. Não surpreende que os romanos tivessem ate um deus para isso.
Estar disposto ao novo demonstra um ser aberto para a evolução e para o desenvolvimento próprio, o estático, parado no tempo não evolui, e é esquecido pelo tempo.
Venho aqui, pela primeira vez, contar uma experiência pessoal. Há mais de um ano atrás, tomei uma decisão que me colocaria para fora do meu conforto, me levaria para longe do conhecido e me levaria para o novo. Fechei um pacote de intercâmbio para a cidade de Dublin na Irlanda, onde eu estudaria inglês por seis meses.
Viajar para fora do país sempre fora um sonho meu, entretanto, a única experiência que eu tinha nesse sentido era de uma semana em Buenos Aires, na Argentina em 2016. Então veja, eu nunca havia passado tanto tempo longe de casa, ou mesmo longe de minha cidade, de meu estado... De meu país!
Os meses que antecederam a viagem foram de grande angústia para mim, já que eu estava caminhando a passos largos, tanto para o maior sonho que tinha na vida, mas ao mesmo tempo, para o desconhecido. Após meses de angústia e de preparação, finalmente o dia chegou, 26 de junho de 2018, três dias depois de meu aniversário de 25 anos.
Eu, que havia acabado de me formar em Psicologia, não via um recomeço como esse há algum tempo, talvez, desde 2012, quando me cadastrei no vestibular da universidade decidido a começar a faculdade.
Os primeiros meses, em especial o primeiro, foram especialmente difíceis, a adaptação acontece aos poucos. O primeiro dia, uma quarta-feira fria e cinzenta, mesmo que fosse verão na Europa, lembro de chegar depois de cerca de dezessete horas de viagem e uma conexão em Paris, guardar as malas no quarto o qual ficaria nas duas semanas iniciais, tomar um banho e ao sentar na cama me deparar com o pensamento, “o que eu vim fazer aqui”.
A adaptação no intercâmbio ia desde a ir ao mercado, nos supermercados Irlandeses eles não dão sacolas e depois de passar a compra normalmente as pessoas tem pouco tempo para guardar as comprar nas sacolas, que elas mesmas trazem, fazendo isso em uma bancada separada do caixa, até se encontrar nas ruas, que no país muitas vezes não tem placa com o nome, ou mesmo a placa da rua está praticamente escondida.
A angústia que me perseguiu nos meses antes da viagem, não sumiu ao chegar na Irlanda, pelo contrário, durante cerca de um mês ainda me perseguiam as dúvidas e a saudade de casa. Meu curso de inglês não começou tão cedo quanto eu cheguei, fiquei por cerca de nove dias sem nada para fazer e também sozinho. Entretanto, com o tempo fui conseguindo me adaptar, principalmente quando as aulas começaram. Conhecendo pessoas novas, principalmente outras culturas e pessoas de outros países, o que no final posso dizer que foi a melhor experiência de minha vida.
Abrir-se para o novo e para a mudança não é tão simples como abrir uma porta, é um processo contínuo, doloroso muitas vezes. Acontece a todo o momento e não precisa ser em uma mudança de país. O que aconteceu comigo, talvez, seja apenas um exemplo mais extremo de mudança. Entretanto, pode ser um emprego novo, um projeto novo, um relacionamento novo, uma amizade nova ou mesmo a mudança interna, aquela mais importante de todas.
É sim, um processo muitas vezes dolorido e difícil, desapegar-se do conhecido e lançar-se ao novo e desconhecido, mas, essa é, talvez, a única forma de sermos no mundo de forma a evoluirmos sempre e não nos estagnarmos.
Como disse Heráclito, “Nada é permanente, exceto a mudança”.
Comentarios